INDELICADA

Sempre achei que a solução para todos os meus problemas fosse encontrar minha mãe, mas a vida me provou que não é bem assim.
Meu nome é Alice, nasci em Catolândia, uma cidadezinha da Bahia tão pequena que não aparece nos mapas. Quando eu era pequena minha mãe e eu estávamos vindo para salvador, com o intuito de passarmos às férias aqui, em umas das paradas do ônibus minha mãe desceu para comprar lanches e, o motorista partiu deixando-a para trás, eu estava sonolenta e não percebi. Quando acordei já estava na rodoviária, desci do ônibus procurando minha mãe, no meio da confusão entrei em desespero quando percebi que havia me perdido.
Um casal bem vestido ia passando pelo terminal e resolveu me ajudar. Eles queriam adotar uma criança, então foram no juizado comigo e prometeram ajudar-me caso eu dissesse ao juiz que queria ficar com eles. Aceitei o acordo, eles cumpriram a promessa. De lá para cá, venho em uma busca incessante para reencontrar minha família. Recebi apoio por parte dos meus pais adotivos. Eles me ajudaram bastantes, apesar de terem medo de me perder, afinal, eu era filha única e minha mãe não podia ter filhos.
Tenho 22 anos, estou no ultimo semestre  de comunicação na UFBA. Não tenho amigos, nunca tive namorado, a razão da minha vida é encontrar minha família de sangue. Levo uma vida monótoma e sedentária, Passo horas na internet procurando alguma pista que me leve à felicidade que tanto busco.
De tanto procurar, achei uma pista no facebook, um menino chamado Alício Salomão, mesmo sobrenome que o meu, com mais ou menos 15 anos, postou as seguintes frase: "não aguento mais ver minha mãe sofrer por causa da minha irmã perdida’’ "16 anos se passaram e ela ainda procura a filha perdida’’ . Nesta ultima frase tive certeza, ele é meu irmão e minha mãe não me esqueceu! Pulei de alegria, chorei, eu não estava acreditando, havia encontrado minha família.
Falei com meus pais adotivos, eles tentaram disfarçar, mesmo assim a decepção deles ficou visível. Voltei para meu quarto e puxei assunto com Alício, perguntei tudo sobre a história da irmã desaparecida dele, ele foi respondendo sem maldade, eu estava usando Lice, meu apelido , por isso ele não desconfiou de nada. Resolvi me identificar quando ele falou brincando que ‘’Alice dormiu demais no ônibus mágico e foi parar no país das maravilhas’’ eu ri, e digitei pausadamente ALICE DORMIU DEMAIS NO ÔNIBUS ,  AGORA ESTÁ BEM ACORDADA E ENCONTROU O IRMÃO PELO FACEBOOK E ELE ESTAVA DORMINDO E NÃO PERCEBEU QUE HAVIA ENCONTRADO A IRMÃ.
Passaram-se dias da primeira conversa com meu irmão, nós já estávamos íntimos, eu já havia falado com minha mãezinha e com meu padrasto. Já estava tudo certo, eles viriam me visitar no final de semana. Eu passei a semana ansiosa e feliz, fiz amigos na faculdade, fui à praia,  aceitei sair com um rapaz da turma que me chamava há muito tempo.
Chegou o grande dia, acordei cedo, pus o meu vestido mais bonito, pedir à empregada que fizesse vários pratos para o almoço, eu não sabia o que eles gostavam. Meus pais adotivos estavam mantendo um sorriso forçado, eu estava ocupada demais com minhas dúvidas para tentar entende-los.
O interfone tocou, eram eles, fui correndo abrir o portão, chegando lá uma surpresa, era o meu padrasto, sozinho, fiquei decepcionada, o abracei e perguntei pela minha mãe e meu irmão, ele disse que eles não puderam vir porque havia acontecido um imprevisto na empresa da família e eles tiveram que ficar. Não acreditei, as lágrimas rolaram pelo meu rosto, isso não poderia ser verdade, minha mãe preferiu a empresa a mim, a filha qual ela procurou a vida toda.
Márcio, meu padrasto conversou com meus pais. Pedi licença e fui para o meu quarto pensar naquilo tudo que estava acontecendo. De repente, ouvir a voz do meu pai gritando, ele estava muito nervoso. Não desci, fui até a escada para ouvir melhor.
Não pude acreditar no que ouvir, eu havia sido vendida pela minha própria mãe! Gritei pedindo para eles pararem com a discussão. Mandei Marcio ir embora, exigi
explicações do meu pai - Alice, eu queria te contar, mas não tive coragem. Quando sua mãe ainda estava naquele ônibus com você, vindo para Salvador, eu a vi chorando e perguntei o que estava acontecendo, ela me disse que a situação financeira de vocês não estava muito boa e que iria tentar te vender para abrir uma empresa de quentinhas, achei um absurdo, mas não disse nada fui sentar novamente. Quando sentei sua mãe me pediu para adotar uma criança já que ela não poderia ter filhos, ela sabia que era muito difícil, contudo insistiu para que eu a ajudasse com isso. Eu pensei bom já que nós queremos adotar e aquela mulher quer vender porque não? Levantei e chamei sua mãe para conversar ofereci a ela capital para abrir a empresa, dei o numero do meu escritório a ela e disse que não era pra dizer nada a minha esposa, esse seria um segredo nosso, combinamos dia e hora da ligação. Sua mãe desceu do ônibus e o resto você sabe. A Rita (minha mãe adotiva) não sabia de nada, se tiver de culpar alguém culpe a mim.”
Não disse nada a ele, fui pro quarto esfriar a cabeça, pensar no que fazer. Decidi esquecer-se de minha mãe de sangue, ela me vendeu, é imperdoável.
Depois disso minha vida mudou, concluir a faculdade fiz amigos verdadeiros, estou noiva do Kadú, ou melhor, Carlos Eduardo como ele quer que o chamem agora. Nós estamos abrindo juntos uma editora, Carlos Eduardo é presidente e redator, eu digamos que transformo os dramas da vida  em história, às vezes com final feliz, como a minha, às vezes sou um pouco indelicada, que é o nome do meu próximo livro.
‘‘não tente buscar a felicidade naquilo que você perdeu, construa uma nova história, crie o próprio seu final feliz, mesmo que não seja final, que seja pelo menos feliz.”.

Comentários

  1. Emocionante e perfeita,podemos sim optar por reescrever nossa história com momentos felizes.

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