Festa da Carne

Então é carnaval! Abadá, pipoca, curtição. E eu no camarote do sofá, vendo um bloco de séries na Netflix.
Parecia mentira: Logo eu, a maior foliona que salvador respeita, em casa em pleno domingo de carnaval.
Era muita vontade pra pouca verba.
-Salário na conta! - Primeira mensagem do dia no Whatsapp. Levantar da cama numa manhã de segunda nunca havia sido tão animado.
 Peguei meu cartão, fui no “Bompreço" comprar Skol Beats de R$2,29(nos circuitos era R$5,00), aproveitei para comprar umas frutas, com tamanho fluxo de pessoas e doenças na cidade é necessário fortalecer os anticorpos.
Camiseta regata, short jeans e sapatilha. Uniforme de foliona padrão em salvador. #Partiu avenida #respeitaasminas .
Chegando à lapa, antes do circuito da festa, uma fila quilométrica para a revista policial. Mulheres de um lado, homens do outro (E as pessoas trans para qual lado vão?). Minha vez chegou. Um policial fez a minha revista. Não faz sentido ter filas divididas por gênero se em ambas as filas a revista é feita por homem. Sendo que objetivo da divisão sexual da revista é, teoricamente, evitar que as mulheres se sintam constrangidas pela abordagem de um policial.
Lá vêm os muquiranas, homens cis transvestidos que se acham engraçados.  Me acabo de rir com as brincadeirinhas machistas e transfobicas deles. Aquela arma de plástico cheia de que, só Deus sabe, é a treva! Fecho a cara e sigo meu rumo.
Bato de frente com a tão polêmica e temida pipoca de Igor Kannário. – Pipoca de Kannário é barril – Comentou a vendedora ambulante em minha frente.  Povo preto, favelado, bermudão da cyclone tudo num bloco só, a sociedade criminaliza. Eu precisava chegar na concentração dos trios, para isso tinha que passar por essa pipoca. Tava cheia, muito cheia, ou eu pulava com a galera ou eu pulava. Não tinha como passar sem entrar no ritmo. Nunca vi povo mais animado, a alegria e a adoração pelo cantor era nítida. Foi essa galera que elegeu Igor Kannário um dos vereadores mais votados de salvador.
Cheguei na concentração do bloco independente “Respeita as minas”. Pouca gente, galera feminista, LGBT que grita fora Temer. Várias e várias conhecidas, eu tava em casa.
Tomei chuva, empurrão da polícia, só alegria. No dia seguinte, garganta inflamada, pés inchados, até meu olho doía. Não ia ser uma dorzinha aqui, outra ali que iria derrubar.
Terça de carnaval, dia da pipoca da rainha má, também conhecida Daniela Mercury, no Campo Grande. Pra uns uma deusa, pra outros demônio, pra mim, a cantora que me fez pular até ficar manca.

Encontrei , por acaso, minha mãe meu padrasto na avenida, eles parados, eu indo atrás da pipoca de Daniela - O bloco da diversidade... - comentou minha mãe , sem saber ela que na ala das "sapatão" , eu sou  rainha de bateria.





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